Óleos Comedogênicos: Mitos, Verdades e Como Identificar Corretamente
Óleos Comedogênicos

Óleos Comedogênicos: Mitos, Verdades e Como Identificar Corretamente

A preocupação com a aplicação de óleos comedogênicos no rosto é extremamente válida, afinal, queremos cuidar da nossa pele sem efeitos colaterais. No entanto, as tabelas e escalas disponíveis na internet podem não ser muito confiáveis por diversas razões.

Aqui vamos explicar cientificamente o motivo desses dados serem questionáveis e ajudar você a encontrar um óleo com baixo potencial comedogênico para sua pele!

O que é comedogenicidade?

Comedogenicidade é o termo usado para designar a capacidade de uma substância de obstruir poros, causando um comedão – termo que designa cravos e espinhas.

Como é avaliado o grau de comedogenicidade?

Antes de falar sobre os óleos comedogênicos, vamos antes esclarecer uma coisa: como se realmente avalia a comedogenicidade de um óleo? De onde vem os dados que embasam listas que rodam na internet? Bom, a notícia não é muito animadora: o método para muitos desses estudos foi desenvolvido por um dermatologista chamado Albert Kligman, em 1979 [1], para avaliar o potencial comedogênico de diversos ingredientes.

Seu método consistia em aplicar o ingrediente a ser testado na parte interna de uma orelha de coelhos 5 dias por semana por 3 semanas e então avaliar o surgimento de comedões (ou os famosos cravos), e a partir disso organizar o grau de comedogenicidade desses compostos em uma escala de 0 a 5 [1]. Esse método foi desenvolvido nos anos 50 para avaliar o risco que alguns componentes poderiam causar aos trabalhadores da indústria química e adotado posteriormente nos testes cosméticos, o que inspirou Kligman.

Logo que esse estudo foi publicado, muitos colegas dermatologistas e formuladores encontraram discrepâncias enormes comparando os resultados obtidos pelo Kligman com os da sua experiência empírica. Ainda assim, devido ao imenso prestígio que ele tem na área, essa escala seguiu firme e forte por décadas, apesar das diversas objeções levantadas, até que em 1996 o próprio Kligman publicou um artigo alertando que os resultados dos testes que ele desenvolveu não eram lá muito confiáveis.

Nas suas próprias palavras: “(…) nem o teste do coelho nem o teste humano são totalmente satisfatórios. Sérias controvérsias surgiram em relação à confiabilidade e relevância do modelo da orelha de coelho. Uma volumosa literatura revela resultados notavelmente divergentes entre laboratórios e pesquisadores. Substâncias consideradas fortemente comedogênicas por alguns são declaradas por outros como inócuas. Os revisores não deixaram de notar a alta frequência de resultados surpreendentemente contraditórios.” [2]

Mas qual o problema com esses testes,
além da questão ética?

Apesar desses estudos serem a grande fonte da maioria das informações sobre óleos comedogênicos na internet, eles não são unânimes entre os pesquisadores da área, como disse o próprio Kligman. Isso se dá por vários motivos, mesmo quando realizados em humanos, e vamos listar alguns deles:

A pele da parte interna da orelha de coelhos machos com poros grandes (usados por Kligman) é muito mais sensível que a pele humana. Portanto a correlação de que o resultado obtido em uma será observável na outra não é confiável.

Mesmo quando realizados em humanos, os testes foram realizados nas costas de pessoas com poros grandes [3], o que não reflete a realidade. Afinal, a pele das costas não é exatamente semelhante à do rosto e nem todas as pessoas têm poros grandes no rosto. Além disso, seis pessoas (a média dos testes) não refletem toda a diversidade humana presente no público que utiliza cosméticos.

Muitos testes são realizados com o ingrediente isolado, o que raramente acontece na prática, por um espaço de tempo curto e com poucas pessoas. Além dos altos custos que inviabilizam um estudo mais amplo, os próprios pesquisadores concluíram que um produto não será necessariamente comedogênico só porque contém ingredientes potencialmente comedogênicos quando isolados [3].

Após a aplicação em humanos, a área é coberta, o que não acontece na vida real quando se aplica algum produto no rosto.

Se esse parâmetro é questionável,
qual devo usar então para avaliar óleos comedogênicos?

Pela lista acima deu pra perceber que os testes de comedogenicidade não são muito parecidos com o uso real de cosméticos. Existem ainda diversos motivos pelos quais esses dados são questionáveis, como a concentração do ingrediente no cosmético, a reincidência de aplicação e as caraterísticas únicas de cada organismo e ambiente. Um produto que pode ser altamente comedogênico para uma pessoa não necessariamente será para outra! Ainda, um produto pode ser comedogênico para sua pele no verão úmido e não ser no inverno seco. Sendo um assunto com tantas nuances, como se preparar para fazer a melhor escolha quando falamos em óleos comedogênicos?

Avaliando a composição de óleos vegetais

Tendo em vista que listas podem até ser interessantes em alguns aspectos, mas extremamente duvidosas em outros, é importante analisar a composição de óleos vegetais antes de escolher qual usar para além de apenas acessar informações sobre óleos comedogênicos sem embasamento científico.

  • Óleos mais leves e com menor potencial comedogênico são ricos em ácidos graxos saturados de cadeia média e curta (como as manteigas de murumuru, licuri, coco ou de babaçu) e ácidos graxos polinsaturados (como a semente de uva, linhaça, chia, maracujá ou rosa mosqueta). A jojoba entra nessa categoria leve mas não é um óleo: é uma cera líquida. A copaíba também, mas é uma oleorresina, que deve ser usada diluída em outros óleos antes da aplicação.
  • Se você busca óleos e manteigas mais emolientes e tem poucas questões com potencial comedogênico, os indicados são os ricos em ácidos graxos como palmítico, esteárico, oleico e palmitoleico, como os óleos de açaí, pracaxi, abacate, oliva, macadâmia, buriti, castanha, girassol, gergelim ou andiroba; e manteigas vegetais como cacau, cupuaçu, karitê ou manga.

Essa lista referenciada no perfil de ácidos graxos de cada óleo é importante para que você possa se basear em algo com fundamento e fazer a escolha mais acertada. Porém, é indispensável testar os óleos na sua rotina para descobrir como sua pele lida com eles. Aliás, como sua pele lida com eles ao longo das grandes variações hormonais mensalmente, de temperatura e umidade do ambiente, dentre outros, já que nosso organismo e nosso meio não são estáticos.

Por fim, se sua pele tem tendência a acne, é importante testar em uma pequena região do rosto todos os cosméticos que você deseja usar para saber se aquele produto tem potencial comedogênico pra você. Essa geralmente é uma experiência muito pessoal e ter esse cuidado e precaução consigo é essencial.

Referências:

[1] KLIGMAN, Albert M., KWONG T. An improved rabbit ear model for assessing comedogenic substances. Br J Dermatol. 1979, 699-702.

[2] KLIGMAN, Albert M. Petrolatum is not comedogenic in rabbits or humans: A critical reappraisal of the rabbit ear assay and the concept of “acne cosmetica”J Soc Cosmet Chem 199647, 41-48.

[3] DRAELOS, Zoe D., DINARDO Joseph C. A re-evaluation of the
comedogenicity concept. J Am Acad Dermatol. 2006, 54(3), 507-512.

WONG, Michelle. How to use comedogenicity ratings.

Colin’s Beauty Pages. Comedogenic Scale – Why You Should Ignore It.

Comentários (8)

  • MARAVILHOSO ESSA MATERIA. NAO SABIA QUE EXISTIA ISSO. FAçO PRODUTOS NATURAIS E REALMENTE É MUITO COMPLICADO AS VEZES OS RESULTADOS QUE VAI DE PESSOA À PESSOA, DE TEMPOS E TEMPOS. MUITO OBRIGADA. APROPO… TEM ALGUMA ESCOLA NO SITE BRASILEIRO DE ESCOLA COM PRODUTOS NATURAIS? OU SEJA, RELACIONADOS À COSMETICA COM SHAMPOOS , CREMES ETC.. OBRIGADA! JAQUELINE

    JAQUELINE HÄNNI
    Responder
    • Olá, Jaqueline!
      Que bom que nosso artigo foi útil pra você 🙂 Existem sim escolas e cursos livres de cosmetologia aqui no Brasil. Nós não conhecemos nenhuma instituição a fundo, mas temos certeza que através da internet você pode encontrar aquela que melhor atenda suas necessidades.
      Um abraço,
      Equipe Trópica

      Equipe Trópica
      Responder
      • DESCULPA A DEMORA DA RESPOSTA PESSOAL. MAS ESTAVA OFF:-(
        VCS PODDERIAM ME INDICAR UMA ESCOLA DE COSMETICOS NATURAIS. ENTREI EM UMA NA INGLATERRA , PORÉM NAO ESTOU FELIZ COM OS ESTUDOS… ELES ESTAO MAIS ENTERRESADOS EM VENDER PRODUTOS E CURSOS , NAO DANDO ASSISTENCIAS AOS ESTUDANTES. ( PARA MIM ). MORO NA SUÌçA E AQUI É TD MUITO CAROOOOO… ENTAO PENSEI NO BRASIL CONCERTEZA EXISTE ALGUMA COISA INTERRESANTE E QUE POSSO CONFIAR. SÒ NAO CONHECçO NENHUM SITE DE SEGURANçA. OBRIGADA PELA INFORMAçAO JÀ DE ANTEMAO..

        JAQUELINE HÄNNI
        Responder
        • Oi, Jaqueline!
          Infelizmente nós não temos referências específicas para te indicar. Acredito que existem várias opções e você poderá decidir qual curso é de sua confiança ao entrar em contato com as formuladoras responsáveis 🙂

          Caso possamos ajudar em algo mais, estamos à disposição!
          Boas formulações,
          Equipe Trópica

          Equipe Trópica
          Responder
  • OI gente, adorei a matéria!
    Gostaria de saber se os óleos refinados são comedogênicos e qual a diferença na prática dos refinados para os prensado a frio.
    Desde já agradeço

    Dayse Manso
    Responder
    • Olá, Dayse!
      Não existe relação entre o refino do óleo e sua comedogenicidade. Para óleos refinados, mantemos as mesmas indicações dos óleos prensados a frio: escolher com base nas propriedades sensoriais e químicas do óleo, de acordo o grau de emoliência e proteção que sua pele precisa, sem se preocupar tanto com o potencial comedogênico.
      A diferença entre óleos refinados e prensados a frio está no tratamento que recebem após sua extração. Óleos prensados a frio geralmente passam apenas por um processo de decantação e filtragem, mantendo diversas moléculas características (ácidos graxos livres, lecitina, esqualeno, polifenóis, fitoesteróis, carotenóides, antocianinas etc.) que costumam estar presentes nessa matéria-prima em estado bruto. Algumas dessas moléculas possuem benefícios para uso na pele. Óleos refinados passam por outras etapas químicas ou físicas responsáveis pela remoção dessas moléculas, para retirar propriedades que não sejam desejadas em determinada aplicação, como odor, cor, acidez etc. O resultado é um óleo purificado, sem subprodutos da extração. É nessa categoria que se encontram a maior parte dos óleos alimentícios de largo uso, porque necessitam de um sensorial neutro com baixa acidez.
      Refinado ou prensado a frio, o mais importante é conhecer o perfil de cada óleo para suas aplicações, obter óleos de fornecedores idôneos e aplicá-los de maneira adequada para o fim que se deseja obter.
      Esperamos ter ajudado!
      Um abraço,
      Equipe Trópica

      Equipe Trópica
      Responder
  • Que texto fantástico! Muito explicativo e crítico, amei!

    Laís Abreu
    Responder
    • Oi, Laís!

      Que bom que você gostou!
      Isso nos deixa felizes e nos motiva a continuar produzindo conteúdo informativo, científico e acessível na área cosmética.

      Um grande abraço,
      Equipe Trópica

      Equipe Trópica
      Responder

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