A importância da barreira cutânea da pele

Camada natural mais externa, a barreira cutânea da pele mantém o que é prejudicial fora e o que é benéfico dentro. Apesar da pequena espessura, seu funcionamento é complexo e sua manutenção dentro da rotina de cuidados é essencial para a boa saúde da pele.

Estrato Córneo, a Camada da Barreira Cutânea da Pele

Nossa pele é um organismo complexo, e sua estrutura, apesar de fina, é composta por camadas que guardam mecanismos essenciais para a manutenção da nossa vida: proteger nosso corpo de todas as ameaças externas, do grão de poeira a micro-organismos patógenos.

O estrato córneo é nossa camada mais externa, formado por três camadas de aproximadamente 20 células no total – o que pode parecer pouco, mas é o suficiente para sua função. Nele, nossas células estão dispostas como tijolos em uma parede: cada tijolo é uma célula, chamada de queratinócito, e entre elas estão nosso suor e sebo, um conteúdo lipídico formado por ceramidas, ácidos graxos e colesterol que impede a desidratação da pele.

O que é barreira cutânea?

A barreira cutânea é a camada de nossa pele que faz a manutenção da hidratação e permeabilidade, tem ação antimicrobiana, ação antioxidante, atua na manutenção da resposta imunológica e age barreira fotoprotetora.

Manter a hidratação celular sem impedir a permeabilidade de compostos essenciais é o princípio mais básico para sua saúde – sem essa proteção lipídica fornecida pelos fatores naturais de hidratação (ou NMFs, natural moisturizing factors), formados pelo nosso suor, ceramidas, ácidos graxos, colesterol e outros componentes, nossas células ressecariam e seus processos vitais ficariam vulneráveis.

Essas três camadas de células do estrato córneo também têm pH ácido, medindo em torno de 4.5–5.3 na camada mais externa e chegando a 6.8 na camada mais profunda: esse é o chamado manto ácido. Em toda sua sabedoria, nosso organismo constrói a barreira cutânea da pele com um escudo protetor formado pela acidez natural dessa camada, o que torna seu ambiente inóspito para microorganismos patógenos e ao mesmo tempo amigável para nossa microbiota (sobre a qual já falamos aqui).

Já a proteção contra poluição, radiação solar e outras fontes de radicais livres da barreira cutânea da pele se dá pela presença de complexos sistemas antioxidantes, que contam com compostos químicos como a vitamina C, coenzima q10, vitamina E e antioxidantes enzimáticos, além de outras funções celulares envolvidas em proteger nossa pele da ação oxidativa (também já falamos a respeito aqui).

E por fim, mas igualmente importantes, estão as funções de resposta imunológica, que reconhece e impede a passagem de microorganismos patógenos e a inacreditável barreira fotoprotetora, que para além do sistema antioxidante ainda tem propriedades óticas reflexivas, nos protegendo da radiação solar.

Se você chegou ao fim dessa descrição amando um pouco mais a perfeição da barreira cutânea da pele, está certíssima: ela é fantástica, mas sua manutenção está além do que nossos olhos enxergam.

A Barreira Cutânea da Pele Para Além da Superfície

Como tudo em nosso corpo, a manutenção de todos esses mecanismos da barreira cutânea da pele é uma questão de equilíbrio: muita radiação solar queima nossa pele e desencadeia processos de inflamação e aniquilação de grande parte dessas células, excesso de limpeza compromete o equilíbrio dos fatores naturais de hidratação e a aplicação constante de substâncias alcalinas, como o bicarbonato de sódio, pode prejudicar o manto ácido.

Mas a saúde de nossa pele precisa ser enxergada para além da superfície: ela se mantém de dentro para fora.

Um estudo de 2001 sugere que “o estresse agudo psicossocial e de privação do sono interrompe a homeostase da barreira cutânea da pele em mulheres, e que essa interrupção pode estar relacionada a alterações induzidas pelo estresse na secreção de citocinas” – ou seja, pensar a beleza integrativa é essencial para a manutenção da saúde de nosso corpo e mente como um todo, evitando uma barreira cutânea danificada.

Como restaurar a barreira cutânea?

Para falar em restaurar a barreira cutânea precisamos falar de três pontos: o que fazer com a pele, o que não fazer para prejudicar o manto hidrolipídico e como pensar nossa rotina para além da skincare.

Mas antes de mais nada, um aviso essencial: não se preocupe tanto com isso, afinal a capacidade mais incrível da nossa pele e especificamente da barreira cutânea é se autoregular, fazendo de tudo para voltar ao seu funcionamento normal 24h por dia, sem descanso. As orientações que trazemos aqui têm em vista facilitar essa autoregulação, mas ela já existe e é mais eficaz do que qualquer intervenção que a gente possa fazer.

Dito isto, vamos aos três pontos:

• O que fazer? O cuidado diário básico com a pele consiste em limpar, hidratar e proteger. A limpeza precisa ser suave, sem retirar agressivamente nossos fatores naturais de hidratação; a hidratação precisa repor esses fatores de forma equilibrada, com produtos que tenham preferencialmente um pH amigável à pele, e a proteção solar deve levar em consideração o tom da sua pele, o tempo de exposição e as áreas expostas.

• O que não fazer? Apesar de se autoregular com muita facilidade, hábitos cotidianos podem tornar essa autoregulação mais desafiadora. Para evitar essa sobrecarga precisamos evitar limpar em excesso a pele bem como esfoliar a pele para além de uma ou duas vezes na semana, manter uma rotina de cuidados com menos produtos, pensando naqueles que dão apoio às funções naturais que nossa pele já executa e evitar exposição nociva ao sol (essa é, de longe, nossa maior ameaça à saúde celular).

• Nossa rotina para além do skincare. Mas mais importante aqui é lembrar que uma vida digna e com bem estar é direito de todas as pessoas – o stress psicossocial não afeta apenas a nossa pele, mas nossa saúde como um todo. Coletivamente é importante que a gente mantenha isso em vista, enquanto individualmente precisamos buscar construir hábitos e rotinas que respeitem nosso corpo e nossa mente, reconhecendo nossos limites, nossos potenciais e agindo dentro deles sempre que possível.

Uma fina camada de 20 células pode parecer pouco, mas é ampliando nosso olhar para o micro que compreendemos como ele está profundamente conectado com o todo – e é a partir disso que nos encantamos cada dia mais com quão fascinante é nosso corpo, e quão essencial é cuidar dele de forma mais integrativa e consciente.

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